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BRINQUEDO ASSASSINO (2019) - FILM REVIEW

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Brinquedo assassino funciona muito bem como um espelho do seu tempo. Assim como os filmes do James Bond se atualizaram e fizeram um enorme sucesso, o diretor Lars Klevberg enxergou que este era o caminho para trazer de volta Chucky, em mundo onde as pessoas estão conectadas o tempo todo e cada vez mais solitárias, dando sentido a coisas que não dariam em 1988, quando o primeiro filme saiu. 

A história segue Andy (Gabriel Bateman) e sua mãe, que se mudam para uma nova cidade em busca de um recomeço. Preocupada com o desinteresse do filho em fazer novos amigos, Karen (Aubrey Plaza) decide dar a ele de presente de aniversário um boneco tecnológico que, além de ser o companheiro ideal para crianças e propor diversas atividades lúdicas, executa funções da casa sob comandos de voz. Os problemas começam a surgir quando o boneco Chuck se torna extremamente possessivo em relação a Andy e está disposto a fazer qualquer coisa para afastar o garoto das pessoas que o amam.


É normal que fãs do clássico se distanciem desta nova produção já na apresentação do pôster, afinal modificaram o boneco. Seria um tiro no pé, se levarmos em conta que A hora do pesadelo fez isto em 2010 e deu errado e os remakes que deram certo, tipo Sexta Feira 13, Massacre da serra elétrica e Viagem dos malditos, mantiveram a ideia central e claro os vilões. 

Talvez um dos grandes erros dos remakes seja não se arriscarem. É também natural que os produtores pensem que se modificarem muitas coisas, vão espantar o público. Mas isto é um erro. São novos tempos e muita coisa mudou nestes 30 anos. Tecnologicamente, principalmente. Em 1988, esperávamos para ver filmes na Tela Quente, Supercine, Cinema em Casa e Sessão de Gala. As locadoras de VHS eram nossa escola, Nada de tvs por assinatura, streaming e downloads. Não havia internet (disponível para todos, pelo menos, já que ela foi criada em 1969. No Brasil ela se iniciou, ou melhor começou a engatinhar justamente em 1988)..


Numa tarde de domingo, no dia 23 de abril de 1989, saiu eu, aos 12 anos recém-completados, para assistir mais um filme. Eu já era cinéfilo e via tudo que estreava. A diferença capital era de que não tínhamos informações na mão. Dificilmente sabíamos do que se tratava um filme. Chegando lá, me deparei com um cinema (assisti no Cine Central, em Juiz de Fora) vazio. Mal sabia eu que em pouco mais de 1 hora e meia eu veria um filme que marcaria aquela geração. Mal sabia eu que 30 anos depois eu entrevistaria Tom Holland, diretor do filme. Muito menos, que Chucky seria um ícone pop, que teria esposa, filho e várias continuações. 

Sim, se olharmos para trás, Brinquedo assassino, que nem foi uma obra prima do medo (não resisti a piadinha, mas acabei de assistir It 2 no cinema).se perdeu nas continuações. Portanto, atualizar o remake não era apenas uma bela sacada, era necessidade.


Os produtores não brincaram em serviço. Não só entregaram um filme tenso e bem feito, como tiveram a coragem de estrear o filme no mesmo dia de Toy Story 4, batendo de frente com outro Andy e outros brinquedos. E ainda deu uma zoada com os cartazes de divulgação (fotos acima).

O filme não tem medo de brincar com alguns ícones do cinema. A certa altura, um carro de polícia de brinquedo é ativado e afirma "vivo ou morto, você vem comigo". Esta é uma referência  ao Robocop, que também foi lançado pela Orion Pictures em 1987. Em outro momento, um garoto decide chamar seu brinquedo de Luke. Quem dubla Chucky é Mark Hamil, o Luke de Star Wars. Aliás, Andy decide chamar seu boneco de ... Han Solo, que era um rival de Luke no primeiro filme e no segundo, por conta de uma paixonite de ambos por Leia (lógico que isto aconteceu antes de Luke saber que ela era sua irmã!!!). Há referências ao E.T. de Spielberg, como o dedo brilhante, o boneco fazendo tudo funcionar ou como Chuck aprende a fazer as coisas pela Tv. Inclusive, um dos posteres do filme lembra a cena final de Caçadores da arca perdida, na qual a arca da aliança é guardada em um galpão;


Alias, uma das belas sacadas do filme é mostrar Chuck aprendendo a matar com os jovens se divertindo ao assistirem Massacre da serra elétrica. Ele percebe como se divertem, refletindo ali a ausência de empatia da geração atual. Não vou contar mais para não dar mais spoilers, mas a cena acaba norteando os acontecimentos.

Chuck Nutella vs Chuck Raiz

Uma das expressões usadas pelos internautas, sempre prontos para pré-julgarem filmes, principalmente remakes, foi nomear este novo Chuck como Nutella. Talvez, esta geração saiba algum dia, que o novo Chuck é apenas um espelho dela.


Back to the future

Vou fazer uma rápida recapitulação, para entender a trajetória do Good Guy até aqui. No primeiro, de 1988, um serial killer é morto em um tiroteio com a polícia, mas antes de morrer utiliza seus conhecimentos de vodu e transfere sua alma para um boneco. Um menino ganha exatamente este brinquedo como presente da sua mãe. O menino tenta alertar que o boneco está vivo, mas sua mãe e um detetive da polícia só acreditam nele após o brinquedo ter feito várias vítimas. Mas o boneco está realmente interessado é no garoto, pois só no corpo dele poderá continuar vivo, e isto coloca a criança em grande perigo.

O nome completo de Chucky, Charles Lee Ray, é derivado dos nomes dos assassinos notórios Charles Manson, Lee Harvey Oswald e James Earl Ray. Seguido por Brinquedo Assassino 2 (1990). Dois anos depois, o menino que sobreviveu aos ataques do serial killer, que se apossou do brinquedo e o transformou em um instrumento de terror e morte, refez sua vida com o auxílio da família. Mas, na tentativa de salvar sua reputação, os fabricantes do boneco assassino o reconstroem, para provar que não há nada errado com ele. Ao fazerem isto, eles trazem a alma do serial killer de volta a vida e novamente o brinquedo passa a ameaçar a vida do garoto.


Dois anos depois,  Brinquedo Assassino 3 (1992) veio ao mundo. Mas a história de passa 8 anos depois. O garoto que era perseguido pelo boneco assassino se tornou um adolescente matriculado em uma academia militar. A companhia que fabricou o brinquedo acredita que, depois de todo este tempo, a má publicidade em virtude dos trágicos acontecimentos tinha acabado. Assim, ela fabrica o terrível boneco outra vez usando o material antigo, o que faz com que mais uma vez o espírito do serial killer volta a vida. Porém, ao procurar seu antigo dono, o boneco cai nas mãos de outro garoto. Diante deste quadro, o demoníaco brinquedo considera muito mais fácil transferir sua alma para esta inocente criança, mas o antigo dono sabe que o espírito do assassino está vivo outra vez e pretende fazer algo para detê-lo.

Este trio ganhou a era VHS e muitos fãs. Mas a falta de idéias sempre levam estas sequências aos piores destinos. Seguiu-se, em 1998, A noiva de Chucky. Tiffany (Jennifer Tilly), a namorada de Charles "Chucky" Lee, o famoso serial killer, quando este era vivo, sente a falta dele desde que sua alma foi transferida para o boneco "Guy Doll". Assim, Tiffany consegue resgatar os restos de Chucky, que estavam sendo guardados como evidência policial, e com agulha, linha e uma caixa cheia de pedaços de velhas bonecas consegue refazer Chucky. Através de um ritual vodu, ela faz com que a alma do seu ex-namorado volte para o boneco, mas o "casal" se desentende e ela o tranca em uma pequena jaula e lhe dá como "parceira" uma boneca vestida de noiva. Mas Chucky tem outros planos, conseguindo reverter a situação e colocar a alma de Tiffany na boneca. Chucky e Tiffany precisam encontrar novos corpos, mas para isto precisam do amuleto que foi enterrado junto com o corpo de Charles "Chucky" Lee em Hackensack, New Jersey. Mas, como não pode ir para lá sozinhos, acabam envolvendo Jade (Katherine Heigl) e Jesse (Nick Stabile), um casal de jovens apaixonados que acabam sendo culpados dos crimes de Chucky e Tiffany, sem sequer imaginar que os bonecos são assassinos.


4 anos depois nasceu O filho de Chucky. Na "obra", um filme de terror sobre Chucky (Brad Dourif), o boneco assassino, está sendo rodado em Hollywood. Quando as filmagens têm início Glen (Billy Boyd), o boneco órfão de Chucky e Tiffany (Jennifer Tilly), decide partir para o local. Já em Hollywood Glen consegue ressuscitar seus pais, que estão sedentos por sangue e iniciam uma nova série de assassinatos. Porém o que o casal não contava era com a repulsa de Glen, que não quer seguir os passos do pai e também se tornar um assassino. Paralelamente Tiffany fica deslumbrada com o mundo do entretenimento, especialmente quando conhece sua atriz predileta, Jennifer Tilly, que está no filme sobre Chucky.

O incansável Don Mancini não parou por ai. Além de roteirizar todos os filmes, ele dirigiu, além do filme anterior, mais dois, sendo que ainda vai sair uma série de tv e outro filme sobre Charles, provavelmente um pre-quel.


Em 2013, depois do mórbido suicídio de sua mãe, Nica (Fiona Dourif) recebe a visita de sua autoritária irmã Barb (Danielle Bisutti), que pretende ajudar nos arranjos do funeral. Sua filha vem acompanhada de um simpático boneco ruivo (voz de Brad Dourif) que chegou curiosamente pelos correios. Mas quando uma série de assassinatos aterroriza a vizinhança, Nica começa a suspeitar que o brinquedo tenha alguma relação com estes fatos. Ela nem suspeita que Chucky está de volta para resolver casos pessoais de mais de 20 anos atrás, e ele não poupará esforços em seu caminho, até a conclusão sangrenta e chocante. Este foi A maldição de Chucky. 

4 anos depois, iniciou-se o O Culto de Chucky. Após investigações, a polícia ficou convencida de que foi Nica Pierce (Fiona Dourif) que assassinou brutalmente sua família, quando na verdade o crime foi cometido pelo famoso boneco assassino Chucky. Agora no manicômio e acreditando que se livrou do mal, a jovem nem imagina o que sua psicóloga pretende lhe dar como presente.

Lendo isto, francamente, o novo Brinquedo assassino precisava mesmo de um olhar diferente.






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