ALÉM DA ETERNIDADE (1989) - FILM REVIEW
Sempre
Texto: M.V.Pacheco
Revisão: Thais A.F. Melo
Steven Spielberg é um diretor de grandes clássicos do cinema. E como tal, sempre apreciou o cinema clássico. Um dos filmes que o emocionou se chama Dois no Céu (1943). O filme, dirigido por outro mestre, Victor Fleming que dirigiu o grande "E o Vento Levou..." conta a história do piloto Pete Sandidge (Spencer Tracy), que durante a 2ª Guerra Mundial morre em uma missão de reconhecimento.
A alma dele ascende ao "Paraíso dos Pilotos", onde ele é efusivamente saudado pelo General (Lionel Barrymore), uma equivalência militar de Deus. O General nomeia Pete para agir como anjo da guarda para um grupo de pilotos de treinamento, assim ele volta invisível para a Terra. Um destes pilotos é Ted Randall (Van Johnson), um belo jovem que acaba se apaixonado pela namorada de Pete, Dorinda Durston (Irene Dunne).
Esta história inspirou seu filme, que conta com várias mudanças na história, mas mantendo o espírito (sem trocadilhos) do primeiro filme. Na trama, Peter Sandich (Richard Dreyfuss) é um aviador que combate incêndios florestais e morre em um acidente.
Ao chegar ao Paraíso, é apresentado a um anjo que estimula o espírito de Peter a retornar para transmitir o seu conhecimento para o jovem sucessor, Ted Baker (Brad Johnson), e para ajudá-lo a esquecer Dorinda Durston, uma orientadora de voo. Após voltar como uma aparição invisível, Sandich acaba descobrindo que Ted está apaixonado por Dorinda.
Richard Dreyfuss, assim como Spielberg, adorava o filme clássico. Assistiu pelo menos 35 vezes!!! E como ambos tinham realizado Tubarão (1975) e Contatos Imediatos de Terceiro Grau (1977), eles planejaram a nova parceria a seguir, mas acabou acontecendo somente 10 anos depois.
Dorinda diz a Pete que não quer que ele morra só para apagar um incêndio. Ela diz a ele que entenderia se ele morresse salvando a vida de alguém. Isto é exatamente o que acontece.
Os primeiros materiais promocionais do filme creditavam a falecida Diane Thomas como co-roteirista, mas os materiais posteriores (e o filme final) creditaram a Jerry Belson como o único roteirista. Diane estava trabalhando no roteiro de Steven Spielberg quando morreu tragicamente em um acidente de carro em 1985.
Curiosamente, o filme foi lançado com outro filme que tem uma história bem semelhante, o mega sucesso Ghost: Do Outro Lado da Vida (1990). Acabou sendo o último filme da atriz Audrey Hepburn antes de sua morte em 20 de janeiro de 1993, aos 63 anos. Ela entrou no papel no lugar de Sean Connery. Ambos inclusive trabalharam em Robin e Marian (1976), nos papéis títulos. Audrey Hepburn recebeu US$ 1 milhão por seu papel. Ela doou todo o seu salário para a UNICEF.
Audrey Hepburn teve que ser carregada em uma maca pelos membros da equipe ao filmar suas cenas na floresta incendiada para que a sujeira e as cinzas não manchassem seu figurino branco. O suéter e as calças que Hepburn usa eram de seu guarda-roupa pessoal.
Há um easter egg que prenuncia o destino do personagem: a música que Pete assobia quando quase bate no início do filme é a Garryowen. Este era o tema da 7ª cavalaria e era a música tocada pelos músicos que por vezes acompanhavam George Custer, cujo destino era morrer devido à sua natureza impetuosa, o que se reflete no comportamento de Pete.
E outro momento bem interessante para os cinéfilos: quando Dorinda volta para casa no avião, ela está vestida como Ripley de Aliens, O Resgate (1986), e da mesma forma, ela tem um gato ruivo. A gata, no entanto, se chama Linda Blair.
Na sequência de abertura, Pete se refere a Dorinda como "Funny Face" pelo rádio, um termo aparentemente carinhoso. Mais tarde na história, Pete conhece Hap, interpretada por Audrey Hepburn, que por sua vez interpretou a protagonista feminina em Funny Face (1957), chamado por aqui de Cinderela em Paris.
Steven, em sua filmografia, alterna filmes sérios, grandes blockbusters e produções escapistas, geralmente comédias como O Terminal, Prenda-Me se For Capaz e 1941 - Uma Guerra Muito Louca. Mas mesmo este sendo assumidamente uma comédia romântica, que com o passar dos anos, fica mais deliciosa de assistir, Spielberg mostra com maestria os momentos de tensão que envolvem a profissão tratada no filme.
Para os românticos incuráveis como eu, a história de amor e morte funciona muito bem. Não há como não simpatizar com a química (ou falta dela) do par central, que de tão diferentes, parecem que nasceram um para o outro. E o filme faz várias referências ao cinemão, como Star Wars ("- Eu te amo""- Eu sei"), a imitação de John Wayne em "Homem Que Matou o Facínora" e até mesmo "Jornada nas Estrelas".
A produção é de uma riqueza visual fascinante, repleta de transições que exploram fogo e o céu, tons brancos e azuis, simbolismos dentro da narrativa que casam perfeitamente com a temática de vida e morte proposta pelo roteiro.
São elementos que indicam o quanto Spielberg entende da linguagem cinematográfica, principalmente pela utilização da bela trilha instrumental de John Williams e da fotografia marcante de Mikael Salomon.
Enfim, uma ótima opção para rever.
"Kiss me and fly”